Compromisso carrasco de ser feliz



Foto: Rafael Rocha


A felicidade é silenciosa. Discreta. Não grita para o mundo inteiro ouvir.

A vida inteira achei que felicidade e êxtase eram a mesma coisa. Extravasamento. Transbordar.
Mas aprendi com o tempo, o passar dos anos e todos os momentos de dor, que felicidade não se estampa. É algo muito íntimo e particular.

A felicidade só se conjuga no tempo presente. No passado, é sujeito inexistente. No futuro, é verbo intransitivo.

Transita no hoje. No agora. Em trânsito permanente. Um contraditório ‘permanente’ que pertence exclusivamente ao hoje. No já. No aqui. Da forma mais trivial, simples e humana.

Fosca. Opaca. Leve. Tranquila. Sem dilatação de pupila.

A gente tem pressa de ser feliz e sonha em viver uma grande história de amor e acha que o clímax é a meta e confunde intensidade com desespero e desespero com felicidade. Mas o apogeu é sucedido pela queda.  E é mais fácil aprender sobre a felicidade com o declínio.

Um indefinível calmo e manso. Sentimento de autonomia e liberdade. De despretensão.

Desconstrução de aparências, sucessos, conveniências, cargos, títulos, do tempo...

Não quero ser melhor que ninguém. Quero ser.

Nem quero fazer de uma forma genial. Quero fazer, sem tensão, aceitando e respeitando os meus limites.

Não sou especialista em felicidade. Nem quero ser. Para mim, felicidade e tempo são duas obsessões destrutivas.

A palavra 'felicidade' traz consigo tensão, cobrança, aparência. Obrigação. Fantasia. Ficção. E também arrasta uma corrente muito pesada chamada 'competitividade'.

Libertar-se do compromisso carrasco de ser feliz, contraditoriamente, já é ser feliz.

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