Entrevista com a escritora Patrícia Tenório





Com uma intensa produção literária, resultado de muita disciplina e dedicação ao ofício da escrita, a autora recifense Patrícia Gonçalves Tenório comemora o aniversário de 50 anos de existência com uma declaração de amor à criação artística, às palavras e aos livros.
Graduada em Ciência da Computação, na Universidade Católica de Pernambuco - Unicap, Mestra em Teoria da Literatura pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE e Doutora em Escrita Criativa pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS, Patrícia lançou, em Recife e em Porto Alegre, no mês de novembro, a caixa Cinco Livros (Editora Raio de Sol). No dia 21, o lançamento foi na Livraria Cultura do Shopping RioMar, e no dia 25, na Livraria Bamboletras, na Capital Gaúcha.
Contista, romancista, poeta. A escritora explora as incontáveis possibilidades da escrita em textos inéditos e títulos publicados anteriormente, mas esgotados. Ávida pelo trabalho de criar, Patrícia considera a publicação dos cinco livros, uma retrospectiva fundamental, no sentido de impulsioná-la para novas experiências.
Escritora por formação, a recifense autora de 16 livros é uma das coordenadoras da especialização em Escrita Criativa, que abriu a primeira turma na cidade de Recife, em uma parceria entre a Unicap e a PUCRS. Na entrevista, a seguir, ela fala sobre a contribuição da teoria para a prática, sobre bloqueio criativo e sua trajetória de estudos na área. E ainda fala sobre a origem das cinco publicações do box recém-lançado. Confira:
CyT - A sua produção literária é intensa. Quando essa produção literária começou?
PGT - Eu comecei a escrever, realmente, em 2004. Digo que comecei tarde. Ia fazer 35 anos. Eu tive uma livraria de 2002 a 2004. E tinha a oficina de Carrero. Só que eu não podia fazer a oficina porque não dava tempo. Ou eu fazia a oficina ou eu trabalhava atendendo os clientes. Quando eu fechei a livraria me deu uma vontade muito grande de escrever e de fazer a oficina. Aí fui para Carrero. Sempre gostei muito de ler, mas li poucos clássicos, na minha juventude. Eu sentia uma defasagem muito grande. Precisava abraçar o mundo em pouco tempo. Eu me sentia muito atrasada em termos dos outros escritores que começaram desde a infância a ler os clássicos. Comecei a ler tudo o que vinha nas oficinas. Fiz a oficina com Carrero, depois fiz com Assis Brasil, na PUC, depois fui para fora, fiz outras oficinas. Em 2005, minha família me chamou para fazer um livro sobre o meu avô, O Major, que era o centenário do nascimento dele. Em 2006, escrevi As Joaninhas não Mentem, que é uma fábula, em 2007, Grãos, e por aí foi... Em 2014, entrei no mestrado de Teoria da Literatura, na UFPE, que até o pessoal dizia ‘Ah, Patrícia, você agora vai parar de escrever porque a teoria vai engessar sua ficção, sua poesia’... Eu não sei se tem alguma coisa errada na minha cabeça, mas, para mim, funcionou exatamente ao contrário. Aí foi que eu comecei a escrever mesmo. A teoria me provocava e me provoca, ainda hoje, muito a escrita de ficção, a poesia… Eu me alimento muito disso.
CyT - Em meio a tanta produção, você passa por crise de bloqueio criativo?
PGT - Passo sim. Agora uma coisa interessante é que quando eu estou com bloqueio em algum gênero eu tento outro. É nisso que eu acho que a teoria me ajudou. Acredito que é essa coisa de estudar para escrever. Aprender a técnica, aprender o ofício do escritor. Especialização, mestrado e doutorado traz um volume muito grande de leitura, mas a gente tem um resultado muito grande e nota esse resultado na própria escrita. É impressionante quando você pega textos que escreveu lá atrás e depois pega um texto que escreveu durante e após o curso, você nota o crescimento. Você já começa a ter um estilo próprio e começa a usar certas palavras do seu vocabulário.
CyT - Nesse processo desde 2004, quando você se encontrou, realmente, como escritora?
PGT - Foi uma coisa que foi acontecendo aos poucos. Eu acredito que em qualquer área você não começa pronto. Só se você for um gênio. E mesmo um Mozart da vida ele teve aula. Ele estudou. Ele teve uma educação. Acredito sempre na importância da educação. De você ter um mestre que lhe oriente, que lhe passe as técnicas, você ler muito, beber dos grandes autores. Não é questão de imitação, é questão de aprendizagem. Tem uma frase que eu gosto muito que Augusto Rodin dizia aos pupilos dele do ateliê… ele dizia ‘vocês tem que aprender as técnicas e depois esquecer’. Então, a gente está estudando, na hora de escrever a gente não pensa muito nas técnicas, simplesmente escreve. Só que depois, você nota a presença da técnica no que escreveu. É como se estivesse dentro do sangue. Como se você tivesse elaborado tudo aquilo que estudou.
CyT- Você vem se planejando para esse lançamento dos 50 anos, há quanto tempo?
PGT - Foi mais ou menos no final do ano passado (2018), início desse ano, que tive essa ideia de fazer esses cinco livros. Eles já estavam mais ou menos feitos. Alguns textos são inéditos, mas outros não. Eu tinha a minha tese de Doutorado, o ‘12 Horas’, que era a parte ficcional, que é essa novela, e tinha o ensaio teórico, que eu defendi em outubro de 2018. Era uma questão de revisão e adequação para livro. Em novembro do ano passado, no período do meu aniversário, eu comecei a escrever contos. Eu me fiz essa proposta, esse desafio de escrever 50 contos em um mês. Esse até foi um desafio que o Haruki Murakami, um romancista maravilhoso do Japão, eu gosto muito dele, no livro Romancista como Vocação, ele diz que é muito mais fácil para o romancista passar muito tempo escrevendo um romance com aqueles personagens e aquela história, mas no caso do contista ele acha muito difícil. Como é que você vai limpar sua cabeça e daqui a três meses escrever um conto novo com outros personagens? Então, aconteceu uma coisa bem interessante em 13, que é esse livro de 50 contos porque a proposta foi lançada, eram personagens que tinham os mesmos nomes, mas eram totalmente diferentes. Por exemplo, a Polly, em um conto, é uma cachorrinha e em outro conto ela é uma moça normal. Às vezes, as histórias também se cruzam porque eu aproveito personagens de um conto para o outro como se fossem encadeados. O 14... já existiam esses poemas que eu havia publicado em internet e em redes sociais….
CyT – Você começou, em 2013, com esses poemas?
PGT – Justamente, em 2013. Porque eu comecei a escrever contos.
CyT - Seu primeiro gênero foi contos...
PGT - Foi contos. Era o que eu me sentia mais à vontade. Eu nunca imaginei que eu fosse escrever poesia. Eu achava que poesia era coisa para grandes mesmo. Não estou dizendo que, hoje, eu já cheguei em algum lugar, mas eu sempre tive essa timidez com relação à poesia. Mas quando eu comecei em 2013, na disciplina do professor Lourival Holanda, Poética do Ensaio, havia vários poetas na turma, aí a gente criou um grupo de facebook e todo dia alguém postava uma poesia, como se fosse um jogo. A partir daí, a produção de poesia aumentou, durante o mestrado, e depois seguiu no doutorado. Tinha mais de 200 poemas que escrevi de 2013 a 2018 e aí eu pedi ajuda a um poeta maravilhoso lá do Ceará que se chama Alves de Aquino e ele me ajudou a fazer a seleção e fez o prefácio poético e, também, convidou o Carlos Nóbrega que é outro poeta maravilhoso lá do Ceará. E aí o 14 já existia. E o 15... eram ensaios que eu escrevi de 2013 a 2018. Eu fiz a seleção, quem me ajudou foi o Fábio Varela, que foi indicado pelo professor Assis. Ele é um jovem Doutor de Letras, em Teoria da Literatura. É muito difícil a gente mesmo escolher porque, às vezes, a gente gosta de um texto pelo afeto, por aquilo que representa naquela época, mas, às vezes, não é o melhor texto e uma pessoa de fora tem esse olhar mais limpo, mais racional mesmo pra nos ajudar. E isso aconteceu no 7 por 11.
CyT - Eu não entendi por que o 11...
PGT - Pois é. Em 2016 eu lancei meu 11º livro, A Menina do Olho Verde. Aí eu quis fazer uma seleção dos livros, como se fosse uma coletânea. Na verdade, o Fábio Varela veio para me ajudar nesse 7 por 11. Esse foi o mais difícil de eu escolher quais eram os textos que iriam entrar na seleção. E ele escolheu 7 livros. E desses 7 livros, tem livros que estão na íntegra, por exemplo, As Joaninhas não Mentem está na íntegra. A Menina do Olho Verde está na íntegra. O 21 que foi um livro que lancei em Portugal e Espanha, ele é bilíngue... também está esgotado. Então, a gente fez uma seleção, principalmente, desses esgotados. Ou seja, 7 livros de 11 que foram publicados.
CyT – Você disse que, às vezes, o escritor desenvolve afeto por algum texto. No caso dos livros do box, você tem um afeto especial por algum deles?
Não. Não sei se porque eles estão numa coleção e eles nasceram mais ou menos juntos... literalmente, eles estão nascendo hoje. É como se fossem quíntuplos, como se eu tivesse tendo cinco filhos. Então, não dá para dizer qual dos cinco eu gosto mais. Eu tentei pelo menos, nesses livros, fazer uma retrospectiva de toda a minha trajetória. Acho que tem momentos da vida da gente que é bom dar uma paradinha, olhar para trás e ver tudo o que aconteceu, as coisas boas, também as coisas não boas, fazer uma retrospectiva mesmo que isso dá mais força pra gente caminhar, pra gente continuar, pra gente ir em frente.
Serviço:

Os livros estão sendo vendidos, exclusivamente, na Livraria Cultura.

7 por 11 – R$ 30,00
12 Horas – R$ 20,00
13 – R$ 15,00
14 – R$ 15,00
15 – R$ 20,00
Caixa com 5 livros – R$ 100,00

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