Foto: Henri Cartier Bresson
O
amor existe. Da forma mais trivial possível. É preciso entender isso.
Geralmente, não é intenso, mas é tranquilo. Seguro. É como um porto, local de
partida e chegada dos navios. É a âncora que impede que a água do mar leve a
embarcação sem controle e sem destino. É o doce ninho. Quentinho e confortável,
mas modesto.
Esqueça os lençóis vermelhos de seda. A mulher sensual que você
conheceu, no bar, em um sábado à noite. A namorada, sempre depilada. As
lingeries rendadas e provocantes. Fio dental é muito desconfortável. Lycra é
quente, provoca alergias e corrimentos. Não faz bem à saúde vaginal. Aliás,
esqueça tudo o que você viu nos filmes pornôs. Em Malhação. Na novela das oito.
Separe, ficção de realidade. E não espere muita emoção de um buquê de flores.
De um jantar à luz de velas. Ou de uma declaração pública. Tudo isso é fantasia.
Aquele ator, abdômen de tanquinho, braços fortes, rosto
perfeito, que faz propaganda de cueca? Desista. O amor tem barriguinha
saliente, cabelo assanhado e cara amassada. Dorme de maquiagem e acorda com o
rímel escorrendo embaixo do olho. Usa calcinha de algodão. Tem um hálito
desagradável quando acorda. Lava louça. Varre casa. Limpa banheiro. Engorda.
Tem TPM. Tem depressão. Tem mau-humor. E tem muitas responsabilidades.
Mas, a característica fundamental do amor é a trivialidade. E vou dizer a
inspiração para essa conclusão. Recebi um torpedo, por engano, precisamente, no
dia 30 de agosto, às 8:20 da manhã. Em caixa alta. BOM DIA, AMOR. TRAZ PÃO.
BJ.TE AMO. Logo, percebi que não era para mim. E, mesmo assim, fiquei
super-feliz.
Era uma amiga do colégio, mãe de dois filhos. Quase não nos
vemos. Infelizmente, nos distanciamos pelos compromissos diários, escolhas,
rumos que a vida toma. Embora o carinho permaneça. A mensagem, claro, era para
o marido. Respondi, dizendo que era engano, senão ela e as crianças iam ficar
sem café da manhã. Não sei se, nesse dia, o pão chegou a tempo. Se é que
chegou. Só, sei que, nesse dia, ficou mais compreensível, para mim, que o lindo
de amar é simples. E trivial.
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Tu é linda :)
ResponderExcluirNós duas somos, Mari ;-)
ResponderExcluirNós duas somos, Mari ;-)
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