Comecei a escrever diários há uns
11 anos. Duas razões me moviam. Uma delas era guardar minha história, dali para
frente, no papel, já que minha memória não é confiável. A outra era
terapêutica. Colocar para fora o que me incomodava, materializar algumas
questões e quem sabe suas respostas.
Diário não é literatura mas,
talvez, por ser uma poesia bruta, impulsiva, em seu estado não civilizado, foi
e continua sendo um instrumento bastante terapêutico. Libertador.
A palavra, várias vezes, me
salvou e salva, por meio dos diários, da terapia, da poesia que me acompanha
desde criança, dos livros que li e do jornalismo, que é meu ganha-pão.
Sinto-me, totalmente, contemplada
por Eduardo Galeano quando ele fala que somos feitos de histórias e não de
átomos, como dizem os cientistas. E qual é o cimento das histórias, senão a
palavra?
Graças a Freud, temos a
consciência do poder curativo das palavras. Ele desenvolveu o processo da cura,
através da fala, a psicanálise.
Costumo ser socorrida pelas
palavras. Outras pessoas encontram socorro nas pinturas, na música, no cinema,
na fotografia, nos movimentos do corpo. Seja como artista ou público.
Sair de dentro da gente, por mais
confuso que possa parecer, é curativo. E a arte possibilita esse transcender, esse
‘se reprojetar no mundo’.
Muitas obras artísticas estão cheias
dos monstros e desejos sublimados dos seus autores. De suas dores e do seu
desamor.
Não consigo enxergar arte onde
não há sentimento. A técnica por si só, para mim, não produz arte. Técnica sem emoção
é como um zumbi. Um corpo sem alma. Sem vida.
Meu conceito de arte é bem
próximo dos conceitos de sensibilidade e sentimento. Claro, equacionados com a
razão. ‘Cérebro e tripas’, citando, novamente, Eduardo Galeano.
Essa arte pura, virgem, é
justamente o que nos salva. Da rotina sem brilho. Das angústias que o viver nos
impõe. A arte nos salva das nossas limitações físicas e transporta nossa alma
para onde o corpo jamais poderia alcançar.
Que a técnica não limite os voos da
nossa alma. Que a estética não nos castre.
Que a ambição de ser arte não nos
mecanize e não nos intimide de ousar transcender.
Porque só vale a pena o que
nos liberta.
Assinar:
Postar comentários
(
Atom
)
Teus textos são, por assim dizer, avassaladores. Redondo. Muito redundou. De uma precisão com a qual eu nunca poderei escrever. Se o que VC falou é verdade - só vale a pena o que nos liberta - ler teus textos me deixa lépida e incute, em mim, uma necessidade de sempre vir aqui, sorver da fonte. Texto libertador, Francesa.
ResponderExcluirObrigada, Mari. Te ter como leitora é uma honra. Ter tua amizade é um privilégio. Te amo.
Excluir"Sair de dentro da gente, por mais confuso que possa parecer, é curativo. E a arte possibilita esse transcender, esse ‘se reprojetar no mundo’." Tão eu. Adorei o texto. Te amo!!
ResponderExcluirSomos nós..... Também te amo, Jana. Obrigada por tudo.
ExcluirTava precisando ler esse texto. Ele me encontrou. =)
ResponderExcluirSimão, que alegria você me traz com esse comentário.... Obrigada.
Excluir