O que restou do que nunca existiu

Ensaio sobre o fato de eu não me lembrar dos seus detalhes


Audrey Hepburn (atriz). Infelizmente, desconheço o nome do fotógrafo.


Eu não me lembro mais dos seus detalhes. Sei que, um certo tempo, quando eu pensava em você, minha memória fazia um zoom em algum gesto seu que esqueci qual era. Talvez, um jeito no pescoço que ninguém mais, no mundo, fazia. Só você. Ou um movimento no cantinho da boca, bem na esquina do sorriso. Algo que, de tão seu, já acontecia involuntariamente. Mas, hoje tenho dúvidas se era isso mesmo.

Tinha todos esses detalhes catalogados na minha cabeça. E, no meu pensamento, seu retrato não era um corpo completo. Era um movimento escondido e tão discreto que só eu enxergava porque estava apaixonada.

Você é o passado de um presente que nunca existiu. Tão inexistente que nem sei bem o que eu não lembro mais a seu respeito.

Parece que era um andar meio pendente de uma lado para o outro, meio preguiçoso... Mas, já não posso garantir.

Queria escrever sobre seus detalhes. Tinha muita coisa para dizer sobre eles. Guardei para depois, esperando o momento sagrado. O momento chegou, hoje. Mas, chegou tarde. E o cenário mudou. Pensei que estava tudo, ainda, bem guardado, dentro de mim. Ia ser uma crônica linda. Um poema ou um ensaio, inspirado, sobre como eu via você quando estava apaixonada. Mas, esqueci os seus detalhes.

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