Com 30 peças escritas e 15 encenadas, Carlos Sett se destaca na dramaturgia da região do Pajeú

 



Nascido em Serra-Talhada, o ator e escritor Carlos Sett tem quatro livros publicados e 30 peças escritas, entre esquetes e comédias. Apesar de nunca tê-las publicado, 15 delas foram aos palcos pelo Centro Dramático do Pajeú e outras pela Equipe Teatral de Serra Talhada - ETEAST Produções, da qual é diretor-presidente. Sett conta que morou na zona rural até os 12 anos, quando mudou-se com a família para a cidade, fugindo da seca. Foi aí seu primeiro contato com a energia elétrica e, por conseguinte, com a televisão. Assistia à programação na casa de vizinhos e ao ver os artistas se movendo e falando naquela pequena tela, decidiu que era aquilo que queria ser. Em 25 anos de dramaturgia, buscou os temas do cotidiano e escreveu focado na realidade da região e na viabilidade de realização, sempre trazendo, em seu texto, a comicidade, a linguagem simples e a mensagem objetiva. Ele nem sempre foi Sett. Até 2019, assinava como Silva, mas depois de superar um problema de saúde fez reformulações na vida. Uma delas foi o sobrenome, que faz referência ao número sete e que, segundo nosso entrevistado, simboliza conclusão e renovação. Conversamos com Sett sobre o seu histórico profissional e a confluência entre o dramaturgo, o ator e o poeta. Ele falou sobre o processo de construção das personagens, censura e sobre o sentimento de ver seus textos encenados. Acompanhe, a seguir, o nosso bate-papo. Com vocês…. Carlos Sett!



Quem veio primeiro: o ator, o dramaturgo ou o poeta?

O ator (muitos risos). Na realidade, eu vim ter contato com a energia elétrica e televisão aos 12 anos de idade. Sou oriundo da zona rural e lá não havia eletricidade, vivíamos à luz de candeeiro. Quando minha mãe nos trouxe ainda criança fugindo da seca de 1991 na roça, passei a ter contato com essa tecnologia na casa dos vizinhos e tal e me encantei pela telinha e imagens em movimentos, pessoas falando. Ao ter a informação de que aquilo eram pessoas de verdade e eu poderia também aparecer ali e tal, fui em busca da profissão de ator e, 4 anos depois, fiz uma oficina de teatro e o ator surgiu. Um ano depois, 1996, (surgiu) o poeta e, em 1998, o dramaturgo. Tudo uma consequência da falta de textos adequados a nossa realidade financeira para encenar. Lia os livros de teatro e os cenários, figurinos, objetos de cenas eram tantos que a gente não tinha como financiar, naquela época, aí passei a escrever.



Você tem algum xodó entre seus textos? E quais te agradaram mais no palco?

“Casa de Mãe Chica”, com certeza, é minha comédia mais aplaudida e encenada. Houve, inclusive, uma censura em um auditório que locamos para realizar duas apresentações. Fizemos uma e a outra precisou ser cancelada, pois alegaram não ser o tipo de espetáculo para o espaço, sendo que a gente estava pagando a pauta. Não quiseram receber o valor da 1ª apresentação e, simplesmente, tivemos que cancelar a 2ª. Mas creio que Confissões: Uma Comédia Divina, seja meu xodó.


Você pode falar mais sobre esse episódio de censura?

Em 2006, num colégio de freiras, já tínhamos feito outros espetáculos no mesmo auditório, apresentamos “Casa de Mãe Chica”, uma comédia que se passa num quarto de bordel, mas trazia uma mensagem positiva. Uma das freiras assistiu, riu pra caramba, sempre tem aquela conversa no final da peça, estava tudo certo para o dia seguinte, já com ingressos vendidos antecipadamente… antes de eu chegar em casa, recebi a ligação no celular que eu cancelasse a apresentação do dia seguinte… não precisava mais pagar a pauta. Em 2009, nas dependências dessa mesma escola funcionava a Faculdade de Integração do Sertão - FIS, uma grande faculdade particular, que nos contratou para uma apresentação. Apresentamos Neurose: a Cidade e seus Sentidos. Eram duas apresentações. A faculdade cancelou a segunda apresentação, também, acreditamos que pelo mesmo motivo. No mesmo ano, reestreamos a peça em outro local, foi um sucesso, saiu na impressa de Serra. Lotou. A gente ia fazer dois dias, fizemos três e tivemos que fazer no final de semana. Foi um sucesso gigantesco. Fomos para Floresta, Triunfo, Afogados, outros estados.


Como a experiência de ator influencia sua escrita? Se é que influencia.

A gente já escreve imaginando a cena, os objetos, como os personagens vão se vestir... como sou diretor de teatro e também produtor cultural, penso nos custos, na logística de transporte para circulação da peça, ou seja, um cenário menor, funcional e, também, na viabilidade da encenação. Escrevo ou faço a adaptação visando a montagem do espetáculo e a apresentação ao público.


Então, você, também, faz adaptações…

Sim, várias e muitas. Desde textos conhecidos a dramaturgias inéditas. Algumas, claro, com autorização dos autores, outras por conta própria para deixar o texto mais acessível a nossa realidade. Foi o caso de Neurose – A Cidade e Seus Sentidos; Jesus & Judas, Traição ou Missão? Essas duas produções foram apresentadas em Salgueiro e circulamos por várias cidades, chegando a nos apresentar em Olinda, Igarassu, Limoeiro, Orobó, entre outras cidades pernambucanas e na cidade do Crato e Barbalha, no Ceará,

Você é um poeta. Existe alguma interferência da poesia na sua escrita para teatro?

Sim, às vezes tem a rima no texto, outro instante um verso e/ou uma paródia musical.

Me fala um pouco sobre o seu processo de construção de personagens. Diz alguns dos seus personagens preferidos.

Tudo parte da intuição, e do famoso “e se?”. Aí vem a pesquisa, os estudos das cenas, a busca pelas repostas para as circunstancias dadas: “quem, onde, o quê, quando, porquê, e como” das personagens. É assim que construo no texto e no fazer. 
O padre Jesus Maria José da comédia Confissões e Mãe Chica são meus personagens preferidos. 


Como chega a você um texto seu encenado no palco? Quais os sentimentos?

Uma satisfação imensa. Sou um contador de histórias, seja como ator de teatro e cinema, seja como poeta, dramaturgo ou jornalista. Então, ver nossas histórias sendo encenadas, lidas, assistidas, comentadas, curtidas, compartilhadas é sempre bom prestando!

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