Escritora salgueirense lança segundo livro de poesia




Raiza Figuerêdo é, antes de tudo, salgueirense. Poetisa e escritora, publicou o primeiro livro, O Coletor, em 2019 pela Editora Confraria do Vento. Escreve prosa, mas suas raízes estão fincadas na poesia, sempre atenta ao entorno, à paisagem, às pessoas. Coleta matéria-prima na singeleza do cotidiano e o faz, não apenas como poetisa, mas como psicóloga e professora, pois acredita que essas áreas podem dialogar. É dessa forma que trocam ideias, entre si, a doutora em psicologia, a arteterapeuta e a professora pesquisadora em psicologia da arte. Atualmente, Raiza se divide entre Recife e Gravatá e divulga o segundo livro, Escola das Horas, pela Editora Patuá, sobre o qual conversamos, na entrevista a seguir.



Cyt: Por que Escola das Horas?

Raiza: Escola das horas é uma metáfora para falar sobre a vida, que é repleta de possibilidades, para estarmos atentos e aprender sobre o viver.


Cyt: Você fala sobre as experiências colhidas nos livros, pode citar alguma?

Raiza: Os conceitos e alguns conhecimentos que uso em vários poemas são exemplos de experiências colhidas nos livros, ao longo da minha trajetória estudantil e acadêmica. Estão relacionados às minhas leituras de psicologia, filosofia, aprendizagens do ensino fundamental e médio, entre outras coisas, como por exemplo, o conceito de transitoriedade, que vem da filosofia oriental e está relacionado ao fato das coisas serem passageiras, está presente no poema brevidades: “um redemoinho mandou avisar que vai passar, rodopia a terra na estrada desenha círculos com a poeira, mais tarde, quem por ali passa, diz que nada aconteceu [...] a transitoriedade, esse conceito filosófico que vivo-sinto no cotidiano”.


Cyt: No seu primeiro livro, você já coletava esses eventos diários, "triviais", que passam despercebidos. Me dá dois ou três exemplos de algo que acontece no decorrer do dia e que te inspira a escrever.

Raiza: Andar a pé é algo que me inspira muito e observar as paisagens, as pessoas, as mudanças nos lugares e a vida acontecendo, quando pode parecer que não. Andar a pé para mim, é chão de liberdade. A natureza e seus ciclos, em toda sua plenitude também são fonte de inspiração e me ajudam a estar mais atenta ao mundo ao redor.


Cyt: Um livro conta uma história com começo, meio e fim. Que história a Escola das Horas conta?

Raiza: Escola das horas é um livro sobre a passagem do tempo e a contemplação da vida, das rotinas, dos lugares, da cidade e do mato. Uma parte dele foi escrita na pandemia, nesse momento, passei dois anos morando na zona rural do agreste pernambucano, esse recolhimento e as dificuldades que enfrentamos nesse período fizeram nascer vários poemas. Também é um livro sobre a delicadeza de expressar as coisas do cotidiano, que muitas vezes passam despercebidas, através da palavra que me move. O mundo precisa de delicadeza.


Cyt: Você fala que existem coisas que só se aprende vivendo. Poderia citar o trecho de algum poema que fale sobre isso?

Raiza: Conforme falei anteriormente, sinto a vida como uma escola das horas em que podemos aprender sempre, como trago no poema transitar: “aprendiz do carpe diem, colho o dia, Horácio, velho poeta, bebo de sua sabedoria milenar”. Ler sobre o carpe diem/aproveitar o dia, pode me ajudar a viver melhor, mas é na experiência do cotidiano, entre erros, acertos, flores e espinhos que vou exercitar isso.


Cyt: A Escola das Horas é mais prática que teoria? Aliás, existe teoria nesse trabalho? Caso sim, o que é teoria e o que é prática, no livro?

Raiza: É um livro em que há teoria e prática, isso tem a ver com a minha história de vida. Sou uma poeta, que passou grande parte da vida em instituições educativas, me tornei doutora em psicologia aos vinte e oito anos, então quando escrevo, essa bagagem está muito presente e gosto de trazer o conceito e a experiência de vida nos textos que escrevo, entrelaçando isso. Estudar, pesquisar e descobrir coisas são algumas atividades que mais me movem na vida.


Cyt: Como o livro conversa com o leitor?

Raiza: O livro conversa com o leitor ao falar de coisas muito simples, mas ao mesmo tempo profundas, a partir do cotidiano, das rotinas, das paisagens, da natureza, então as pessoas podem se sentir tocadas com isso.


Cyt: Salgueiro está de alguma forma retratado nesse livro?

Raiza: Sim. Eu carrego o sertão comigo onde vou. O imaginário e a poética do sertão habitam minha escrita. Há vários poemas nos quais as memórias do sertão estão presentes, pois foi onde conheci as primeiras coisas, cheiros, sabores, sons…


Cyt: Como a psicologia participa dos poemas?

Raiza: A psicologia é uma grande inspiração, sempre. A reflexão sobre o bem viver, algo que me move muito a escrever, é um ponto em comum entre a psicologia e a poesia. Outro elemento importante é a questão do processo de criação em poesia - como o poeta cria? - que também está presente no livro, é uma das temáticas que mais me mobiliza, como escritora e que estudo, desde o doutorado, através da psicologia da arte; uma área que tem a criatividade e os processos de criação, como objetos de estudo. Então, esse é outro ponto de contato entre essas duas áreas.


Cyt: Assim como a psicologia, você considera a poesia uma profissão?

Raiza: Sim, acho importante demarcar esse lugar da poesia, literatura, como profissão, trabalho. É tão importante, quanto meus outros ofícios de psicóloga, arteterapeuta e professora pesquisadora, por exemplo. Essa profissionalização tem a ver com um movimento interno que faço, desde 2014 e foi surgindo, ao longo desse tempo, o desejo de estudar e fazer cursos sobre literatura, ir aos eventos literários, participar de grupos de literatura, saraus, programas de rádio, integrar coletâneas, bem como ser convidada para falar sobre temas literários, entre outras coisas; algo que faço até hoje e ajuda a construir minha identidade de escritora. Nesse ano de 2024, completo dez anos da minha primeira publicação, que foi uma poesia selecionada para uma antologia de poemas, organizada pela prefeitura de Salgueiro e vejo o quanto é importante participar de todas essas coisas que citei.

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